Rei Lear

 Rei Lear é dos personagens mais emblemáticos de Shakespeare. Nele, o autor combina a crueldade e a decadência humana. Octogenário, é o próprio condutor da vida que lhe resta. Num gesto de infantilidade, abdica do poder e das finanças, entrega-os de mão beijadas às filhas megeras e, de quebra, condena ao ostracismo a caçula que o tem com maior carinho. A lei da causa e efeito é implacável.
Tamanha densidade criou uma espécie de mito em torno do personagem. Para interpretá-lo, requer-se um ator com bagagem suficiente para sintetizar a fragilidade inerente. É com essa expectativa, alimentada pelo próprio, que Paulo Autran estrelou a montagem brasileira de “Rei Lear”.
Vê-lo em cena, de fato, compensa. Seu Lear casa-se com os 73 anos de idade. Cambaleando, reflete fisicamente o desequilíbrio do rei shakespeariano . Ator transita com vigor entre os jovens do elenco.
É o viés da loucura, porém, que melhor representa a força do intérprete maior do teatro brasileiro contemporâneo. A “fúria senil” de Lear, que envelheceu sem descobrir a sabedoria, salta aos olhos. Paradoxalmente, já que o bardo inglês faz da contradição uma regra, é nos instantes de puro delírio que o rei se mostra mais lúcido.
Quando caem o véu de Goneril (Karin Rodrigues) e Regan (Suzana Faini), as filhas impostoras, ele já está em processo adiantado de mergulho interior. Num lampejo, se arrepende de maldizer Cordélia (Rachel Ripani). Mas agora é tarde e as mortes são como que inevitáveis.

  • PERSONAGEM

    Cordélia

  • AUTOR

    William Shakespeare.

  • DIREÇÃO

    Ulysses Cruz.

  • DATA

    1996

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